O Dia em que Engoli o Mundo

ou O Fantástico Caderno de Receitas da Vovó. Receitas testadas e aprovadas nas cozinhas experimentais lá de casa e dos amigos destemidos; receitas não testadas, mas com potencial Nhams; divagações e devaneios totalmente amadores sobre Comidas.

Nome:
Local: Recife, PE, Brazil

10.12.2004

Pirão

Tava lembrando hoje de Maria José, uma menina que trabalhou lá em casa.
Pois Maria, grávida, tinha sempre o mesmo desejo, que era um tal de pirão de grude. Pelo que consigo me lembrar, pois naquela época ainda nem alcançava o fogão, o pirão era feito só com farinha e água (minha imaginação quer enfeitar com um pouquinho de manteiga). Por cima, o grande arremate era um ovo frito com a gema quase mole, que Maria estourava, deixava melecar o pirão e comia com um gosto danado, como se fossem trufas (que eu nem sem se é bom, peguei como exemplo pq uma coisa tão cara tem que ter seu mérito).

E eu comia junto. Achava um pouquinho nojenta, a gema quase crua, misturada com aquela geleca transparente, mas nunca fui de muitos pudores em relação à comida. E era bom o negócio, viu? Não sei bem se era pelo gosto mesmo ou se era pela cumplicidade, por ser convidada a fazer parte daquele ritual quase diário, e que pra mim era tão exótico.

Só lembrei do pirão de grude hoje. Tava jogado em algum cantinho empoeirado desse meu cérebro, tão bagunçado quanto o meu guarda roupa. Vou tentar ressucitá-lo, a título de pesquisa. Provavelmente não vai ficar igual, nem vou achar tão bom, mas é assim mesmo, botar a vida real pra concorrer com a memória é covardia.

Por hora tem essa receita de Pirão de Queijo, que é top hit aqui de casa, acompanhando principalmene carne de sol, bode ou carne de charque. O bicho.

Só tem uma coisa, não tem as quantidades não. É na emoção mesmo, na aventura. Um pouquinho mais disso ou daquilo até ficar bom, que é o jeito que eu sei fazer melhor. É o seguinte:

Frita 1/2 cebola bem picadinha na manteiga (se for de garrafa, melhor), fogo baixo até murchar. Acrescenta leite ( vou dizer que é um litro), mexendo sempre, vai deixando escorrer farinha de mandioca peneirada (a mão fechada naquela posição de ui, tá lascado! ou ainda, fudeu!) . Vou dizer que são umas cinco colheres. É pra ficar grossinho, mas não muito. Por último, depois de cozinhar bem o pirão, vai ralando queijo de coalho (queijo de manteiga tb fica bom) até achar que já deu. Deixa o queijo derreter e acerta o sal. Finalmente bota o pirão numa travessa, engorda ele com mais um pouquinho de manteiga e enfeita com uma fatia de queijo em cima. Se quiser, pode gratinar no forno, só por frescura.

Dica: Se ficar muito grosso é só colocar mais leite, ou um pouco de água. Fica uma delícia servir a charque acebolada ou qq outra carne na mesma travessa, por cima do pirão.

10.10.2004

O Brownie Perfeito de Tia Neuman

Já peguei um monte de receitas de Brownie, mas confesso que na hora de fazer acabo sempre repetindo essa, por que é o melhor que já comi:

Ingredientes:

200 gr de manteiga
3 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de chocolate em pó
4 ovos

Derreta a manteiga no microondas ou no fogo em banho maria, sem deixar ferver. Misture bem a manteiga, o açúcar, a farinha e o chocolate. Acrescente os ovos, um a um, mexendo sempre. Leve pra assar numa forma retangular tam. médio (mais ou menos um palmo e meio de comp., é que eu não achei a régua) untada com manteiga ou margarina, em forno médio por aproximadamente 30 minutos. Essa parte é a mais importante pro Brownie dar certo. Ele deve criar uma crosta por cima, mas ficar preguentinho dentro, então não pode assar demais. Deixe esfriar um pouco, corte em quardrados e polvilhe com açúcar.

Dicas: Se quiser usar Nescau, aumente 1/2 xícara e use só 2 e 1/2 de açúcar.
Pode acrescentar castanha triturada e/ou passas.

Wraps

Pra quem não conhece, wrap é um sanduíche feito com pão sírio (ou é um pão bem parecido), só que enroladinho. Fica parecendo um rocombole (é assim que se escreve?). O único lugar onde vi wraps no cardápio, aqui em Recife, foi no La Cuisine. Muito bom, porém très francês - vem pouquinho, com preço salgadinho. Note que não quero desmerecer o La Cuisine, que eu adoro! Inclusive, lá tem uns sanduíches enormes, como o de carpaccio, que dá bem pra duas pessoas que ainda pretendem pedir como sobremesa aquele folhado de maçã perfeito, com sorvete de canela e calda de caramelo. E, comparando com outros restaurantes do mesmo nível gastronômico, os pratos têm até um preço bem honesto.

Mas voltando ao Wrap. Nunca tentei fazer pão sírio e os que encontro, são muito grossos pra enrolar. Aí ontem, comprei um pão na Mundo Verde, que embora à primeira vista tenha achado muito fino, resultou num wrap delicioso. Na verdade, ficou um cruzamento de wrap com taco, uma coisa meio crocante.

Enfim, o experimento é o seguinte: pegue o pão fininho e toste por alguns segundos na chapa ou frigideira, pra dar crocância, sendo que, depois de virar o pão, cubra a metade com queijo muzzarela, dando um tempinho no fogo pra ele derreter. Passe pasta de soja Mundo Verde (é bom, eu juro!) ou maionese (versão Colesterol Plus) na metade sem queijo, espalhe fatias de peito de peru defumado ou outro(s) frio(s) de sua preferência, folhas de alface e cenoura ralada, tipo cabelinho. Enrole o sanduíche como rocombole (esse nome é muito horrível) e regue com azeite. Coma assim mesmo ou corte em fatias na diagonal e partilhe com seus coleguinhas. Outras sugestões de recheio: a tríade mais que rodada, porém delícia - muzza de búfala, tomate seco e rúcula. Rosbife fininho ou carpaccio, molho de mostarda, parmesão de verdade ralado, tomate e folhas. Uma coisa meio taco - molho de tomate picante e carne moída , molho de iogurte, queijo e acelga picadinha. Ou o meu preferido, mas oneroso, pelo menos pro meu bolsinho furado - salmão nham defumado, molho tártaro, de mostarda ou maionese mesmo e folhas.

O dia em que engoli o mundo

De todos os livros de receitas do mundo, o que eu mais desejo de com força e que nunca vou ter, é um Livro de Receitas da Avó, ou da Tia Fulaninha que seja, com as receitas secretas da família.

No Livro é onde estão escondidas as melhores receitas do mundo, testadas e aprovadas em almoços de domingo, jantares de Natal e festas juninas, por gerações e gerações de comilões. As pamonhas mais macias, o bolo mais fofinho, os biscoitos que derretem na boca, Pastéis de Nata e toda uma gama de delícias, que remetem diretamente a roupas manchadas, uma enorme mangueira no jardim, balões de São joão (naquela época, parece que não eram perigosos), caminha quentinha com beijo de boa noite e casquinhas de ferida. Um mundo de segurança gastronômica.

É uma frustração não ter o Livro. Um verdadeiro trauma na minha vida, desde que descobri o mundo maravilhoso da cozinha. Isso foi, quando pela primeira vez, ajudei a fazer um bolo, acho que tinha uns seis anos, por aí. Quer dizer, ajudar, naquela época, era ficar brincando com a gema, passando-a de uma mão para outra, até a pobre estourar de impaciência. Era ficar metendo o dedo furtivamente na mistura de manteiga, açúcar e gemas, que pra mim sempre foi muito melhor do que lamber a tigela no final, com a devida permissão que tirava toda a graça da coisa. E, muito raramete, bater um pouquinho o bolo, morrendo de medo de esquecer e inverter a direção, levando-o a desgraça total que é um bolo solado.

Quando descobri que amava cozinhar e comecei a recortar as receitas das latas de Leite Moça, a primeira coisa que procurei, foi o Livro de Receitas da Avó. Imagine qual foi a minha decepção, ao descobrir que nem a minha vó de Campina Grande, que fazia a melhor tapioca do mundo, nem a minha vó daqui, que faz ainda cozidos e feijoadas inesquecíveis, tinham o hábito de catalogar as receitas secretas da família num caderninho que fosse, pra me deixar de herança, quanto mais num valioso Livro de Receitas da Avó. No caso da minha vó daqui, é ainda mais complicado, por que mais tarde descobri que ela não era exatamente uma excelente cozinheira, mas sim uma gerente de cozinha sem igual. Minha vó sempre mandou bem, literalmente, mas até hoje não sabe nem abrir uma lata.

Não sei de quem herdei esse hobby vital e que me traz tantas aflições com a balança. Das avós eu já falei. Mainha, faz o melhor bacalhau. E tem umas tias que cozinham muuito. Mas ninguém da família, pelo menos que seja do meu conhecimento, tem tamanho amor pela comida e por tudo que se relaciona a ela. Amor que já me fez gastar os suados com livros de receitas que usam ingredientes simplesmente inexistentes por aqui, apetrechos de cozinha que não servem nem pra enfeite e um conjunto de mais de cinquenta peças de barro para feijoada, que nunca foi usado. Até namoro já acabei, em plena lua de mel em Paris, por causa de Padarias. Na verdade, por que o Insensível em questão, teve a audácia de dizer que pão era tudo igual. Heresia! Blasfêmia!

Só sei que a falta do Livro na minha vida, ocasionou um terrível trauma, que me fez primeiro começar a colecionar, obsessivamente, receitas e os livros de culinária mais variados. Depois, registrar as minhas próprias receitas, pensando é claro, na minha netinha. Foi assim que começou O dia em que engoli o mundo ou O Fantástico Caderno das Receitas Não Publicadas da Vovó. A vovó, no caso, sou eu amanhã.

PS: Eu ainda preciso muito de um Livro de Receitas da Avó, principalmente se for de receitas secretas de família. Seja qual for a família. Aceito doações e ou empréstimos.

10.08.2004

Pra achar O Dia... ali dentro do Buraco Negro, nem eu.
Então tá, aqui só se fala em comida.